terça-feira, outubro 27, 2009

Tomada de Posse do Governo de José Sócrates


DN de 27 de Outubro
“O dia de Sócrates, de Camões e da 'Luta'”
por RUI PEDRO ANTUNES
As cerimónias de tomada de posse são todas iguais. Pelo menos, é assim que desejam os senhores do protocolo. Mudam-se os protagonistas, mas o guião mantém-se. Chegam os convidados, discursa o Presidente da República, depois o primeiro-ministro e, por fim, seguem-se os cumprimentos. Porém, ontem, os 'Homens da Luta' foram ao Palácio dar uma "ajuda" na quebra da monotonia da cerimónia.
Ainda antes da chegada dos carros negros, já os gritos de contestação ecoavam pelo Palácio da Ajuda através da dupla de humoristas composta por Nuno e Vasco Duarte. "Isto é Governo para durar dois ou três anos e nós cá estamos a fazer barulho", gritaram ao megafone os humoristas mais conhecidos por Jel e Falâncio, que acabaram por ser detidos pela polícia.
A cerimónia foi tudo menos monótona. Era solene, mas teve gritos de megafone. Não foi épica, mas citou-se Camões. Houve dois protagonistas, mas não eram Cavaco Silva e José Sócrates.
Antes da sessão começar os convidados iam chegando a conta-gotas. Talvez com pressa de abandonar o Governo, Alberto Costa foi o primeiro ministro cessante a chegar ao local. Com o passar do tempo, a primeira fila foi-se compondo. Manuela Ferreira Leite ficou sentada ao lado de Vera Jardim, com quem conversou largos minutos, e de António Costa que, curiosamente, exibia uma gravata laranja.
Com uma segurança apertadíssima e os jornalistas condicionados na deslocação pelas salas do Palácio da Ajuda, só mesmo os "Homens da Luta" tiveram oportunidade de levantar as questões mais fracturantes. Sobre o "caso das escutas" Jel não vacilou: "Onde é que anda o Cavaco? Não te chegas aqui ao microfone, porque já tens muitos microfonezinhos lá no Palácio de Belém."
Os humoristas também não pouparam críticas ao Executivo: "O Governo de Sócrates é o melhor para os Homens da Luta porque é um Governo com mais contestação, mais desemprego." O dispositivo policial, que acabaria por deter os "manifestantes", também mereceu comentários: "Há tantos PSP aqui que é para não haver polícias nos bairros onde são precisos."
E se o casamento entre pessoas do mesmo sexo paira sob o calendário do Governo, os Homens da Luta também não o esqueceram. Perante alguém que se dirigia para a cerimónia questionaram: "É ministro você?" Acrescentando de rompante: "Com essa gravata cor- -de-rosa, só se for ministro das sexualidades alternativas."