Uma das características da esquerda portuguesa que sempre me
revoltou e revolta é o seu sectarismo, que se traduz na incapacidade de trabalhar em conjunto. Sou deputado e dirigente do Partido
Socialista, mas não poupo nenhum dos três partidos da esquerda
portuguesa. Para o PS a responsabilidade é do PCP e do BE. Para o PCP a
responsabilidade é do PS e do BE. Para o BE a responsabilidade é do PS e do
PCP. Para mim a responsabilidade é de todos. Quem tem beneficiado com
esta incapacidade da esquerda portuguesa em unir esforços tem sido
a direita e os sectores mais privilegiados da sociedade
portuguesa.
Quem tem perdido tem sido o povo português. Nasci em 1977,
mas sei bem as origens de uma situação que só encontra paralelo na
esquerda grega. Ainda hoje ouço nas sedes do PS as histórias antigas do
pós-25 de
Abril. Os primeiros anos da nossa democracia marcaram
negativamente as relações entre os diversos partidos da esquerda portuguesa.
A
minha geração nasceu depois do PREC e não compreende, nem aceita que
não se tenha ainda conseguido ultrapassar de forma sólida o
sectarismo
herdado desses anos, até porque já conheceu bons exemplos de
trabalho
conjunto, que se traduziram em grandes vitórias para o povo
português.
Lembremos a vitória de Mário Soares contra Freitas de Amaral
na
segunda volta das Presidenciais de 1986. Lembremos a vitória
conseguida na Câmara Municipal de Lisboa, em 1989, com uma
coligação
que juntou PS, PCP, PEV, UDP e PSR. Pasme-se, uma coligação encabeçada
pelo então Secretário-Geral do PS e negociada entre o líder
nacional
do PS, Jorge Sampaio, e o líder nacional do PCP, Álvaro
Cunhal. Mais
recentemente, e já com uma nova geração na liderança, a
vitória
conseguida no referendo à Interrupção Voluntária da Gravidez
foi
marcante. Sempre que conseguiu trabalhar em conjunto, a
esquerda
derrotou a direita. A única experiência que correu mal foi a
da última
campanha Presidencial de Manuel Alegre. E não podia ter sido diferente, tendo em conta a forma como o PS e o BE encararam a campanha. Estou até hoje convencido de que a direita do PS e a extrema-esquerda do BE ficaram contentes com a derrota.
Queriam ter um exemplo. Um chegava-lhes. Conseguiram.
Pedro Nuno Santos, Deputado do PS
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