sábado, agosto 04, 2012

Esquerda desunida será sempre vencida

Texto da autoria do deputado socialista Pedro Nuno Santos publicado no jornal "i" do dia 1 de agosto

Uma das características da esquerda portuguesa que sempre me revoltou e revolta é o seu sectarismo, que se traduz na incapacidade de trabalhar em conjunto. Sou deputado e dirigente do Partido Socialista, mas não poupo nenhum dos três partidos da esquerda portuguesa. Para o PS a responsabilidade é do PCP e do BE. Para o PCP a responsabilidade é do PS e do BE. Para o BE a responsabilidade é do PS e do PCP. Para mim a responsabilidade é de todos. Quem tem beneficiado com esta incapacidade da esquerda portuguesa em unir esforços tem sido a direita e os sectores mais privilegiados da sociedade portuguesa.

Quem tem perdido tem sido o povo português. Nasci em 1977, mas sei bem as origens de uma situação que só encontra paralelo na esquerda grega. Ainda hoje ouço nas sedes do PS as histórias antigas do pós-25 de
Abril. Os primeiros anos da nossa democracia marcaram negativamente as relações entre os diversos partidos da esquerda portuguesa.

A minha geração nasceu depois do PREC e não compreende, nem aceita que  não se tenha ainda conseguido ultrapassar de forma sólida o sectarismo  herdado desses anos, até porque já conheceu bons exemplos de trabalho  conjunto, que se traduziram em grandes vitórias para o povo português.  Lembremos a vitória de Mário Soares contra Freitas de Amaral na  segunda volta das Presidenciais de 1986. Lembremos a vitória  conseguida na Câmara Municipal de Lisboa, em 1989, com uma coligação  que juntou PS, PCP, PEV, UDP e PSR. Pasme-se, uma coligação encabeçada  pelo então Secretário-Geral do PS e negociada entre o líder nacional  do PS, Jorge Sampaio, e o líder nacional do PCP, Álvaro Cunhal. Mais  recentemente, e já com uma nova geração na liderança, a vitória  conseguida no referendo à Interrupção Voluntária da Gravidez foi  marcante. Sempre que conseguiu trabalhar em conjunto, a esquerda  derrotou a direita. A única experiência que correu mal foi a da última  campanha Presidencial de Manuel Alegre. E não podia ter sido diferente, tendo em conta a forma como o PS e o BE encararam a campanha. Estou até hoje convencido de que a direita do PS e a extrema-esquerda do BE ficaram contentes com a derrota. Queriam ter um exemplo. Um chegava-lhes. Conseguiram. 
Pedro Nuno Santos, Deputado do PS

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