A 29 de Junho, dia S. Pedro, Fernando
Pedro Trigo Rodrigues Soares comemorava mais um aniversário, se ainda estivesse
entre nós. Como não está, aqui vai a homenagem justa a quem a Nazaré muito deve
e que não é mais do que a reposição de uma peça editada no Região de Cister a
27 de Abril de 2007.
O 25 de Abril de 2008 marcará definitivamente
a vida nazarena com a justa homenagem a Fernando Rodrigues Soares, aquele que
terá sido o maior vulto da história local. A Nazaré passou a dispor de uma obra
estatuária que engrandece o homenageado e que terá constituído a verdadeira
obra do regime do actual executivo camarário. O busto do estadista alfacinha,
que escolheu esta vila piscatória para viver, foi sabiamente plantado no jardim
fronteiriço à menina dos seus olhos: O Colégio.
No calor da homenagem ficou por
referir as qualidades de Fernando Soares, na actividade que lhe roubou o nome.
A partir de certa altura Soares passou a responder por mais um apelido: veterinário.
O veterinário Fernando Soares.
Foi nessa qualidade que Soares calcorreou
todos os caminhos, todos os aceiros, todos os casais. Por muito agrestes que
estas artérias ainda hoje continuem a ser, eram meros obstáculos que ele
torneava com o sabor de sentir que a sua presença poderia significar a vida de
um qualquer animal e do seu proprietário. Conhecia todos os munícipes rurais
pelos nomes e até mesmo pelos anseios e pelas agruras que muitas vezes lhes era
ocultada. Tratava-lhes dos animais e das próprias almas. Salvava-lhes o
“ganha-pão” e alimentava-lhes a vida. Sem contrarreembolso. Apenas meros sorrisos.
O veterinário que se enlameava e que salpicava as vestes cumpria sem atropelos,
nem dividendos, a sua acção profissional. Em troca, recebia o sorriso
envergonhado do proprietário aliviado e o esgar do jumento sarado.
O nosso homenageado teve, entre
outros méritos, o mérito de viver aliado à vida dos outros e orientar a sua
vida a partir da felicidade alheia.
O aniversário da comemoração da
Revolução dos Cravos serviu, portanto, para ligar a Nazaré à história. A partir
de agora, ao passar pelo local, revemos todos os dias páginas da história que
marcaram o século XX. Da parte que me diz respeito, tratava-se de páginas
gravadas na minha memória, que fazia questão em não esquecer, mas que a partir
daquela data posso partilhar com todos. Não deixa de ser uma atitude
filantrópica que agradece àquele cidadão o simples facto de ter vivido.
Para os detratores que gostam de
apimentar bibliografias na hora de homenagear é bom lembrar que não há bela sem
senão, se não não era bela. As grandes figuras são portadoras de um halo que
lhes confere impunidade a todo o momento, recordo. Fernando Soares foi mais um
guia espiritual que se libertou da lei da morte, imortalizando-se pelo que fez
e pelo que evitou que se fizesse.
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